terça-feira, março 11, 2008

100 MIL

Não foram 10, nem 100 tão pouco.
Não foram 1000, mas sim 100.000.
E para o nosso (vosso, ou de quem o aturar), primeiro não passa de uma festa, uma party democrática, trata-se apenas de 1 número. Não são cem mil pessoas, tudo se resume e condensa em 1 simples número.

Não me importava se fossem 100.000 mecânicos, cantoneiros, tanoerios ou funileiros.
Foram 100.000 pessoas que se deram ao trabalho de sair de casa, num Sábado, de várias localidades e se resolveram encontrar e marchar pelo que pensavam ser correcto.

Não foram 100.000 comunistas, ou fascistas ou absentistas.
Foram 100.000 pessoas que pensaram, combinaram e levaram a cabo uma verdadeira comunhão de insatisfação, e tudo o que o sr. eng. foi capaz de dizer é que (tirando todo o sumo do seu discurso)essas 100.000 almas não valem nada.

Não vale de nada falar.
Não vale de nada propôr.
Não vale de nada protestar.

e porquê?

Porque esse senhor, pensa, que manda em nós.
Pensa que nos paga salários.
pensa que pode pensar por nós.

Ora eu e muita gente sabe que ele é que não pensa por ele. Sabemos muito bem que ele não passa de um fantoche de outro fantoche qualquer, que serve uma besta qualquer que quer fazer valer aquilo que deseja e pensa!

Não pense senhor primeiro ministro, que toda a gente dorme. Não, nem toda a gente dorme meu senhor.
A sua sorte é que ninguém, incluso eu mesmo, tem, ou melhor, tinha a coragem de se unir contra a política de quem o governa e o mantém no poder.

Foram só 100.000 neste sábado.

Pode ser que num qualquer outro sábado, um qualquer outro número de gente faça uma limpeza à séria nesta lixeira, plena do lixo em que nos tornámos.

Como Chico Buarque cantava:
"Amanhã, vai ser outro dia"
E eu durmo, cada vez menos sossegado, ao balanço do de Holanda
à espera que a última Gota d'Àgua nos faça transbordar
e inundar o país num frémito de limpeza.

Vá dormindo sereno,
enquanto pode.


Apesar de você

(Chico Buarque)

Hoje você é quem manda
falou, tá falado,
não tem discussão, não.

A minha gente hoje anda
falando de lado
e olhando pro chão, viu.

Você que inventou esse estado
e inventou de inventar
toda a escuridão.

Você que inventou o pecado
esqueceu-se de inventar
o perdão.

Apesar de você
amanhã há de ser
outro dia.

Eu pergunto a você
onde vai se esconder
da enorme euforia.

Como vai proibir
quando o galo insistir
em cantar.

Água nova brotando
e a gente se amando
sem parar.

Quando chegar o momento
esse meu sofrimento
vou cobrar com juros, juro.

Todo esse amor reprimido,
esse grito contido,
este samba no escuro.

Você que inventou a tristeza
ora, tenha a fineza
de desinventar.

Você vai pagar e é dobrado
cada lágrima rolada
nesse meu penar.

Inda pago pra ver
o jardim florescer
qual você não queria.

Você vai se amargar
vendo o dia raiar
sem lhe pedir licença.

E eu vou morrer de rir
que esse dia há de vir
antes do que você pensa.

Você vai ter que ver
a manhã renascer
e esbanjar poesia.

Como vai se explicar
vendo o céu clarear
de repente, impunemente.

Como vai abafar
nosso coro a cantar
na sua frente.

Você vai se dar mal,
etecetera e tal,
lalaialalaia....

(1970)

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